Prevista para estrear no Brasil em 8 de maio, a TikTok Shop marca a entrada oficial da ByteDance no varejo digital brasileiro. A expectativa é que a plataforma movimente até R$ 39 bilhões no País até 2028, o equivalente a entre 5% e 9% do e-commerce nacional, segundo estimativas do banco Santander.
A TikTok Shop, que opera em países como Estados Unidos, Indonésia, Tailândia, México e Reino Unido, permite que usuários comprem e vendam produtos sem sair do aplicativo. Em 2024, a plataforma movimentou globalmente US$ 33,2 bilhões em vendas. A quantia representa quase o triplo dos US$ 11,09 bilhões registrados no ano anterior.
O relatório do Itaú aponta que o potencial de impacto da ferramenta no Brasil pode chegar a R$ 3 bilhões em vendas adicionais no comércio eletrônico. A movimentação acompanha a tendência do social commerce, que combina entretenimento e consumo em uma única plataforma. O Brasil é o terceiro maior mercado do TikTok em número de usuários, com mais de 111 milhões de contas ativas, atrás apenas de Indonésia (161,1 milhões) e Estados Unidos (137,9 milhões).
“A TikTok Shop não é mais o e-commerce tradicional, que é estático e passivo, com fotos e texto. É vídeo, live e afiliados”, explica In Hsieh, sócio da Gouvêa China Desk. Ele destaca que o diferencial está na integração entre conteúdo e conversão, com produções que vão além do branding e do uso ativo de afiliados comissionados para ampliar exponencialmente o alcance das vendas.
Segundo ele, o modelo se diferencia por não depender apenas de uma conta oficial da marca, mas sim de centenas ou milhares de criadores atuando como vendedores. “O usuário brasileiro tem quase todas as dimensões para o sucesso. Como criador: criatividade. Como dono: estratégia comercial”, afirma.
A plataforma oferece transmissões ao vivo para vendas, inserção de links de compra em vídeos e vitrines nos perfis dos usuários. A aba “Shop” oferece acesso direto ao marketplace, e o programa de afiliados, o TikTok Shop Ads, conecta marcas a criadores, com pagamento por comissão em vendas.
Henrique Troitinho, CEO da Score Media, afirma que a novidade une dois hábitos já comuns no Brasil: consumo de conteúdo e compras online. “O TikTok Shop será a junção de duas coisas que os brasileiros fazem com frequência. É possível que essa novidade se torne um dos principais canais de vendas por aqui”.
Estratégia de marcas será fundamental
Fernando Moulin, partner da Sponsorb e especialista em negócios, destaca que a presença ativa das marcas na plataforma será essencial. Segundo ele, a TikTok Shop representa uma oportunidade relevante tanto para grandes empresas quanto para pequenos empreendedores. No caso dos menores, o uso estratégico de influenciadores e a oferta de produtos físicos podem acelerar o crescimento e ampliar o alcance das vendas de forma ágil.
“O primeiro passo é configurar os perfis e associar os produtos a influenciadores que compartilhem dos mesmos valores da marca. Os produtos devem estar acessíveis na TikTok Shop, seja na vitrine, via criadores ou por links de afiliados”, recomenda.
No cenário internacional, em 2024, a TikTok Shop movimentou US$ 9 bilhões nos EUA, US$ 6,2 bilhões na Indonésia e US$ 5,7 bilhões na Tailândia. A operação no Brasil integra o plano de expansão da ByteDance para a América Latina, iniciado com a entrada no México no início de 2025.
Entre as categorias com melhor desempenho global estão cosméticos, moda, acessórios e eletrônicos. “No Brasil, essas empresas precisarão estar organicamente presentes como parte do conteúdo consumido, o que dá autenticidade e torna a compra mais fluida”, analisa Moulin.
Segundo a pesquisa “TikTok no Brasil”, da Opinion Box, 45% dos usuários seguem marcas na plataforma, 36% já compraram produtos influenciados por conteúdo e 80% acessam o aplicativo diariamente. Dados da própria empresa indicam que 81% dos usuários usam a rede para descobrir novos tópicos e que 3 em cada 4 descobertas hoje ocorrem dentro da plataforma.
A expectativa é que o comportamento digital do brasileiro favoreça o desempenho da TikTok Shop. Moulin destaca que o varejo precisará acelerar a digitalização e a integração entre canais. “Ainda há pouca conexão entre live commerce, social commerce, e-commerce e lojas físicas. O consumidor já é multiplataforma e vai forçar essa adaptação. Quem não acompanhar pode se tornar irrelevante”.
Sobre a concorrência com grandes marketplaces como Mercado Livre, Shopee e Amazon, Moulin vê mais potencial de complementaridade do que de disputa direta. “Existe espaço para todos. A TikTok Shop deve trazer volumes incrementais ou migrar vendas de canais menos preparados, mas não acredito em uma canibalização significativa dos grandes players”.
Quanto à logística, a expectativa é que a plataforma repita o modelo usado no México, operando inicialmente com parceiros locais. Se optar por internalizar a logística, como no Reino Unido, será necessário desenvolver uma rede robusta de distribuição, o que exigirá tempo e investimento.
Imagem: Divulgação/TikTok