Em seu terceiro dia, o Web Summit Rio ofereceu algumas respostas para indagações que ficaram no ar na segunda-feira. A aparente polarização entre físico e digital, Inteligência Artificial e conexão emocional, relações virtuais e vida real, tudo isso faz parte de uma nova realidade. O que parecia contraditório é, na verdade, complementar.
Essa é a conclusão que se pode tirar do estudo apresentado por Carla Buzasi, CEO da WGSN, para explicar o perfil e o comportamento dos consumidores em 2027.
As tendências trazidas pela WGSN estão alinhadas com a visão dos demais palestrantes do Web Summit e com as conclusões de outros eventos recentes, como a NRF e o SXSW. Elas mostram que as pessoas estão intoxicadas pelo uso excessivo das telas e pelo conteúdo negativo que elas carregam, estão confusas com as informações desencontradas que recebem, muitas vezes vindas de influenciadores digitais, e valorizam cada vez mais os encontros na vida real.
Uma prova dos riscos do vício digital é que 52% da Geração Z dizem se sentir em paz quando estão offline. Por outro lado, há enormes oportunidades, segundo a executiva, para marcas capazes de viabilizar conexões de verdade e promover momentos de alegria e descontração. Nada menos do que 49% dos consumidores estão mais propensos a comprar de marcas que proporcionem momentos de alegria, revelou Carla.
Por isso, a WGSN recomenda que as empresas ajudem seus clientes a encontrar mais equilíbrio, por exemplo, voltando às origens e revivendo o que é clássico. Outra dica é entender que os clientes estão abraçando mais o analógico. Para comprovar essa tendência, Carla citou a recente abertura de livrarias físicas da Barnes & Noble nos Estados Unidos. A rede, que abriu 57 unidades em 2024, pretende investir em 60 novas lojas este ano.
Ao longo do dia, outras sessões do Web Summit discutiram o impacto das transformações nos negócios provocadas pela aceleração das novas tecnologias. A crise do jornalismo, diante da inundação de canais e da hostilidade de parte da sociedade às mídias tradicionais, foi amplamente debatida ontem. Assim como a necessidade de resgatar o papel das marcas, apesar do ambiente que exige das empresas resultados imediatos.
Melissa Jackson, Senior VP Global da agência R/GA, trouxe algumas recomendações úteis para os profissionais que buscam soluções para estes tempos turbulentos. Ela começou sua sessão com um alerta: deixamos a fase de experimentação da IA para entrarmos na etapa de implantação da IA.
A intensificação do uso da Inteligência Artificial acarretará, pelo menos, cinco mudanças importantes na relação dos consumidores com as marcas, de acordo com Melissa:
- Consumidores estão se acostumando a usar a IA como um recurso confiável, o que pode ser uma oportunidade para quem souber usar melhor a ferramenta.
- As pessoas esperarão mais assistência em suas experiências com a marca, já que contarão com ajuda da IA para quase tudo em suas vidas.
- Conteúdos não relevantes para indivíduos específicos serão filtrados e não chegarão ao seu destino, o que significa que personalização será essencial.
- Marcas terão que reagir e responder em tempo real, sem demora.
- Não podemos mais confiar apenas nas soluções que funcionaram no passado.
Se o futuro parece incerto e ameaçador para as empresas e profissionais, Nicole Ingra, fundadora da Ingra Labs, deixou um recado alentador. Em sua palestra, ela afirmou que, quando tudo é incerto, isso significa, ao mesmo tempo, que nada é definitivo. E que devemos todos procurar entender as transformações em curso, em vez de temer o futuro.
Imagem: Luiz Alberto Marinho