
(Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)
Veja os indicadores econômicos que serão destaques entre os dias 28 de abril a 02 de maio, com projeções e comentário do economista André Galhardo.
Dados do mercado de trabalho devem reforçar a continuidade do ciclo de alta de juros
Apesar de alguns indicadores sugerirem uma desaceleração da atividade doméstica, os índices de atividade do Banco Central (BC) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV) seguem apontando para a resiliência da economia. O mercado de trabalho, principal sustentação do atual ritmo de crescimento, deve apresentar números favoráveis novamente em março. Embora projetemos um aumento marginal na taxa de desocupação (7,0%), comum para o período, esperamos mais um resultado robusto no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) (249,9 mil). A força do mercado de trabalho tende a afastar, ao menos temporariamente, a percepção de que o Banco Central poderia encerrar o ciclo de alta da Selic após a reunião de maio. Além disso, dados mais firmes de atividade e emprego podem valorizar o câmbio e reduzir os ramos mais longos das curvas de juros, uma vez que o cenário doméstico mais forte pode exigir uma postura ainda mais conservadora do BC no que diz respeito à política monetária. O Caged será divulgado na terça-feira (28) pelo Ministério do Trabalho e Emprego, no início da tarde.
IGP-M deve ganhar relevância nas próximas decisões de política monetária
Embora os índices gerais de preços tenham apontado uma expressiva deflação no atacado, o que teoricamente favoreceria a desaceleração da inflação ao consumidor nos próximos meses, o diagnóstico exige cautela. O principal ponto de atenção é a extensão limitada desse movimento, a defasagem natural entre a deflação no atacado e o repasse ao varejo, além da magnitude efetiva desse repasse. Caso nossa projeção se confirme, com uma deflação marginal de 0,08% em abril, o dado sinalizará uma interrupção precoce da tendência de queda nos preços ao produtor, reduzindo o espaço para efeitos mais consistentes sobre a inflação ao consumidor. Nesse cenário, a influência desinflacionária dos IGPs seria transitória, exigindo do Banco Central uma avaliação ainda conservadora da trajetória prospectiva da inflação. O IGP-M de abril será divulgado pela FGV também nesta terça, pela manhã.
Março deve consolidar o 4º resultado consecutivo relativamente favorável das contas públicas
A qualificação “relativamente” é necessária, dado que fevereiro registrou déficit de R$31,7 bilhões — ainda que significativamente menor que o observado no mesmo mês de 2024 (-R$58,3 bilhões). Para março, projetamos um superávit primário modesto, em torno de R$546 milhões. Caso o número se confirme, o resultado acumulado em 12 meses recuará para apenas R$9,4 bilhões, o menor patamar desde maio de 2023 nessa métrica. Os números das contas públicas serão divulgadas pelo BC na próxima quarta-feira (30).
Forte melhora no saldo comercial deve atenuar o déficit em transações correntes
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) indicam superávit de aproximadamente US$8,1 bilhões na balança comercial em março, o que deve resultar em um saldo positivo de ao menos US$7,5 bilhões pela metodologia do Banco Central. Projetamos um déficit em transações correntes próximo de US$3,3 bilhões no mês, abaixo dos US$4,1 bilhões registrados em março de 2024. O resultado poderia ser mais favorável, não fosse o aumento sazonal do déficit em renda primária, típico para o período. Por outro lado, estimamos ingresso líquido de cerca de US$10 bilhões em investimento estrangeiro direto, o que afasta, por ora, o risco de desequilíbrio entre a conta corrente e a conta financeira. Os números serão revelados pelo Banco Central nesta segunda-feira (27).
Dados do mercado de trabalho e do PIB dos EUA devem revelar trajetórias distintas da economia
Projetamos alguma desaceleração na criação de empregos e na abertura de novas vagas, embora os resultados possam apresentar volatilidade no curto prazo. As recentes suspensões de tarifas recíprocas e outros recuos do governo norte-americano podem ter gerado um impulso adicional de produção, numa tentativa de antecipação antes de potenciais novos entraves, ainda que os indicadores antecedentes sugiram uma tendência oposta. Por outro lado, os dados do PIB do primeiro trimestre devem refletir de forma mais clara a perda de dinamismo. Estimativas do próprio Federal Reserve apontam para uma contração anualizada de cerca de 0,4%. Caso a queda se confirme, é provável que cresçam as pressões políticas sobre o banco central dos Estados Unidos, com novas tentativas de ingerência do Executivo sobre a condução da política monetária. Os dados de emprego começam a ser divulgados na terça-feira, com o relatório JOLTS, que mostra o cenário de vagas no setor privado norte-americano. Depois, na quinta-feira (1), saem os dados de pedidos de seguro-desemprego em abril, e na sexta-feira (2), o Payroll, principal indicador do mercado de trabalho nos EUA, também de abril. O PIB do país no primeiro trimestre será anunciado na quarta-feira (30).
Inflação e atividade econômica devem confirmar a retomada da estagnação na Zona do Euro
Após meses de melhora nas expectativas de consumidores e empresários — impulsionada inicialmente pela perspectiva de um acordo de paz na Ucrânia, posteriormente descartada, e pelo anúncio de um ambicioso programa de investimentos da Alemanha em infraestrutura e defesa — a realidade dos indicadores econômicos voltou a revelar uma economia anêmica. A Alemanha, cujo PIB preliminar será divulgado nos próximos dias, pode flertar com a recessão técnica, ainda que este não seja o cenário base do mercado. De forma geral, os dados iniciais de inflação e atividade, mesmo que tragam sinais ligeiramente positivos, devem ser insuficientes para alterar a dinâmica de baixo crescimento da Zona do Euro, consolidando espaço para a continuidade do ciclo de cortes de juros pelo Banco Central Europeu (BCE). O PIB europeu será divulgado na quarta-feira.

(Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)
Veja os indicadores econômicos que serão destaques entre os dias 28 de abril a 02 de maio, com projeções e comentário do economista André Galhardo.
Dados do mercado de trabalho devem reforçar a continuidade do ciclo de alta de juros
Apesar de alguns indicadores sugerirem uma desaceleração da atividade doméstica, os índices de atividade do Banco Central (BC) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV) seguem apontando para a resiliência da economia. O mercado de trabalho, principal sustentação do atual ritmo de crescimento, deve apresentar números favoráveis novamente em março. Embora projetemos um aumento marginal na taxa de desocupação (7,0%), comum para o período, esperamos mais um resultado robusto no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) (249,9 mil). A força do mercado de trabalho tende a afastar, ao menos temporariamente, a percepção de que o Banco Central poderia encerrar o ciclo de alta da Selic após a reunião de maio. Além disso, dados mais firmes de atividade e emprego podem valorizar o câmbio e reduzir os ramos mais longos das curvas de juros, uma vez que o cenário doméstico mais forte pode exigir uma postura ainda mais conservadora do BC no que diz respeito à política monetária. O Caged será divulgado na terça-feira (28) pelo Ministério do Trabalho e Emprego, no início da tarde.
IGP-M deve ganhar relevância nas próximas decisões de política monetária
Embora os índices gerais de preços tenham apontado uma expressiva deflação no atacado, o que teoricamente favoreceria a desaceleração da inflação ao consumidor nos próximos meses, o diagnóstico exige cautela. O principal ponto de atenção é a extensão limitada desse movimento, a defasagem natural entre a deflação no atacado e o repasse ao varejo, além da magnitude efetiva desse repasse. Caso nossa projeção se confirme, com uma deflação marginal de 0,08% em abril, o dado sinalizará uma interrupção precoce da tendência de queda nos preços ao produtor, reduzindo o espaço para efeitos mais consistentes sobre a inflação ao consumidor. Nesse cenário, a influência desinflacionária dos IGPs seria transitória, exigindo do Banco Central uma avaliação ainda conservadora da trajetória prospectiva da inflação. O IGP-M de abril será divulgado pela FGV também nesta terça, pela manhã.
Março deve consolidar o 4º resultado consecutivo relativamente favorável das contas públicas
A qualificação “relativamente” é necessária, dado que fevereiro registrou déficit de R$31,7 bilhões — ainda que significativamente menor que o observado no mesmo mês de 2024 (-R$58,3 bilhões). Para março, projetamos um superávit primário modesto, em torno de R$546 milhões. Caso o número se confirme, o resultado acumulado em 12 meses recuará para apenas R$9,4 bilhões, o menor patamar desde maio de 2023 nessa métrica. Os números das contas públicas serão divulgadas pelo BC na próxima quarta-feira (30).
Forte melhora no saldo comercial deve atenuar o déficit em transações correntes
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) indicam superávit de aproximadamente US$8,1 bilhões na balança comercial em março, o que deve resultar em um saldo positivo de ao menos US$7,5 bilhões pela metodologia do Banco Central. Projetamos um déficit em transações correntes próximo de US$3,3 bilhões no mês, abaixo dos US$4,1 bilhões registrados em março de 2024. O resultado poderia ser mais favorável, não fosse o aumento sazonal do déficit em renda primária, típico para o período. Por outro lado, estimamos ingresso líquido de cerca de US$10 bilhões em investimento estrangeiro direto, o que afasta, por ora, o risco de desequilíbrio entre a conta corrente e a conta financeira. Os números serão revelados pelo Banco Central nesta segunda-feira (27).
Dados do mercado de trabalho e do PIB dos EUA devem revelar trajetórias distintas da economia
Projetamos alguma desaceleração na criação de empregos e na abertura de novas vagas, embora os resultados possam apresentar volatilidade no curto prazo. As recentes suspensões de tarifas recíprocas e outros recuos do governo norte-americano podem ter gerado um impulso adicional de produção, numa tentativa de antecipação antes de potenciais novos entraves, ainda que os indicadores antecedentes sugiram uma tendência oposta. Por outro lado, os dados do PIB do primeiro trimestre devem refletir de forma mais clara a perda de dinamismo. Estimativas do próprio Federal Reserve apontam para uma contração anualizada de cerca de 0,4%. Caso a queda se confirme, é provável que cresçam as pressões políticas sobre o banco central dos Estados Unidos, com novas tentativas de ingerência do Executivo sobre a condução da política monetária. Os dados de emprego começam a ser divulgados na terça-feira, com o relatório JOLTS, que mostra o cenário de vagas no setor privado norte-americano. Depois, na quinta-feira (1), saem os dados de pedidos de seguro-desemprego em abril, e na sexta-feira (2), o Payroll, principal indicador do mercado de trabalho nos EUA, também de abril. O PIB do país no primeiro trimestre será anunciado na quarta-feira (30).
Inflação e atividade econômica devem confirmar a retomada da estagnação na Zona do Euro
Após meses de melhora nas expectativas de consumidores e empresários — impulsionada inicialmente pela perspectiva de um acordo de paz na Ucrânia, posteriormente descartada, e pelo anúncio de um ambicioso programa de investimentos da Alemanha em infraestrutura e defesa — a realidade dos indicadores econômicos voltou a revelar uma economia anêmica. A Alemanha, cujo PIB preliminar será divulgado nos próximos dias, pode flertar com a recessão técnica, ainda que este não seja o cenário base do mercado. De forma geral, os dados iniciais de inflação e atividade, mesmo que tragam sinais ligeiramente positivos, devem ser insuficientes para alterar a dinâmica de baixo crescimento da Zona do Euro, consolidando espaço para a continuidade do ciclo de cortes de juros pelo Banco Central Europeu (BCE). O PIB europeu será divulgado na quarta-feira.